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Edilene de L. Pires
PROJETOS E PRÁTICAS DA EDUCAÇÃO INFANTIL
DESENHO INFANTIL: LEITURA E
APRENDIZAGEM
RESUMO
O
presente artigo tem por objetivo apresentar bases teóricas para a formulação de
uma concepção de leitura e aprendizagem através do desenho infantil, mostrando
um estudo do desenvolvimento progressivo do desenho do 0 aos 12 anos de idade
através da ação educativa e de desenhos coletados dos alunos da Escola
Margarida Bruno de Avelar. Analisar a passagem dos rabiscos iniciais,da
garatuja,para construções cada vez mais ordenadas,fazendo surgir os primeiros
símbolos representando a leitura da criança.Desenhos infantis em análise
permitem indicar os possíveis imbrica mentos entre essa produção das crianças e
os processos mentais que constituem os sujeitos na cultura,ou seja, passamos a
considerar que através do desenho as crianças têm expressado sua objetividade e
favorecido o acesso à cultura da infância e de outras influências presentes no
curso de suas vidas. Como medida do desenvolvimento da leitura e aprendizagem
através do desenho, utilizando-se como critérios as mudanças desenvolvi mentais
e funcionamentos intelectuais de cada criança, em um processo que busca
elementos que estão presentes no desenho livre da criança, como esses elementos
estão estruturados e o que podem informar sobre a cultura das crianças de uma
determinada realidade. A sustentação teórica deste trabalho é baseada nas ideias
de alguns autores como Vygotsky, Lowenfeld. Derdyk, Spadoni, entre outros.
Palavras
- chave: Desenho infantil, aprendizagem, leitura.
INTRODUÇÃO
Entrar
no mundo da criança nos primeiros meses de sua vida é entrar numa dimensão de
comunicação na qual ainda não há palavras. Quando a criança desenha, obtém
prazer, mas também é uma forma de manifestar os medos, as frustrações e todos
os outros sentimentos próprios de uma criança.
O desenho pode ser um recurso que a criança usa para
canalizar as informações atuais que recebe diariamente dos meios de comunicação
e da sua própria vivencia com os adultos. Os desenhos infantis são estudados,
interpretados e analisados por psicólogos e educadores que os consideram
reveladores da natureza emocional e psíquica da criança, no qual conheceremos
no decorrer deste trabalho, que tem como objetivo o estudo progressivo do
desenho infantil do 0 aos 12 anos de idade e sua função comunicativa, visto como
forma peculiar de transmitir ideias, uma imagem ou signo e suas representações
com as reconstruções do plano mental do que está estruturado no plano de ações.
É fornecer subsídios para uma reflexão sobre a análise da
leitura e aprendizagem do desenho infantil e a importância da sua ação
educativa no processo aquisição e construção do conhecimento assim como para o
desenvolvimento destes alunos. Ao analisar que no decorrer da simbolização a
criança incorpora progressivamente regularidades ou códigos de representações
das imagens do entorno, passamos a considerar a hipótese de que o desenho serve
para imprimir o que se vê. Desse modo o estudo desenvolve novas possibilidades
para o ensino da leitura e aprendizagem através de uma proposta contextualizada
revelando que por meio do desenho a criança cria e recria individualmente
formas expressas, integrando percepção, imaginação, reflexão e sensibilidade.
De acordo com Derdyk (2004),
teóricos como Lowenfeld, Piaget, Luquet, Vygotsky, Merèdieu, Goodnow, Porcher,
Freiner, Kellog, Winnicott, Wallon e Emilia Ferreiro tiveram papel fundamental
nos estudos sobre o tema. Partindo de pesquisas sobre a ideia de alguns destes
teóricos e observações em sala de aula, no período compreendido entre 28 de
março e 29 de abril, na escola Margarida Bruno de Avelar, onde foi realizada
uma pesquisa de campo sobre o tema, em que veremos que o estudo minucioso dos
desenhos infantis permite em certa forma colocar-se no plano das crianças, ver
o mundo como elas os ver, aproximar-se pelo menos em parte de sua percepção das
coisas e do seu mundo de imaginação e fantasia que as permeiam.
O DESENHO INFANTIL SOB
A VISAO DE ALGUNS AUTORES.
Ao desenho infantil nem sempre foi dada a
devida importância. Foi a partir do século XX que os estudiosos perceberam a importância
do grafismo infantil não só para a psicologia e a psicanálise, mas, para todo
um contexto sociocultural em que a criança estava inserida. Muitos estudiosos
realizaram trabalhos a respeito do grafismo infantil, contudo, eles afirmam que
a fala e o meio social onde a criança vive são determinantes na construção
desses rabiscos; influenciando a maneira e as formas como elas se realizam. Autores
como, Lowenfeld (1977), Luquet (1981), Luçart (1988), Piaget (1971) Goodnow (1979),
kellogg (1969), e meredieu (1979), Vygotsky (1989), dentre outros que
universalizam o desenho numa perspectiva maturacionista que , segundo Lowenfeld
(1977, p.18) a criança só começa a fazer seus primeiros traços, quando há um
amadurecimento neuromotor,socioafetivo e cognitiva, que se dá em torno dos 18
meses de idade. Para Lowenfeld, (in Silvia, 2002) existe uma caracterização e
etapas que se apoia em uma visão maturalista do desenho, onde a produção é
concebida e desvinculada do meio social e da cultura. Todas as crianças passam
por determinadas fases e estágios, independentes do contexto em que estão inseridas.
Em uma de suas obras, Vygotsky apresenta uma abordagem baseadas em etapas que
foi dividida em quatro fases sobre o desenho infantil. A perspectiva histórica
cultural permite criticar e superar as concepções maturalistas a respeito do
desenho porque possibilita ver o desenho como signo empregado pelo homem e constituído
a partir das interações sociais (Silvia, 2002). Partindo do principio de que os
desenhos são verdadeiros documentos produzidos pelas crianças e com base neles é
possível conhecer muito de sua realidade vivida e perceber as crianças como falantes
e criadoras de cultura. Essa operação
requer uma particular flexibilidade e, sobretudo, a capacidade de observar e
escutar sem expectativas, para evitar a interpretação com os olhos dos adultos
o universo infantil que, por muitos aspectos, ainda nos é estranho (Spadoni, 1996).
A
IMPORTÂNCIA DO DESENHO INFANTIL.
Desenhos
infantis, geralmente são desenhos de casa, árvores, flores, família, animais,
nuvens, sol, paisagens entre outros. Mas, nunca paramos pra pensar e perguntar
o que eles dizem? O que esses pequenos autores querem dizer e dizem sobre suas
produções? A leitura do desenho infantil revela o que e como a criança enxerga
o seu próprio universo.
Segundo
Lowenfeld (1977), o desenho deve ser espontâneo, isento de influencias do
ambiente do qual se vive e daquelas que são estimuladas. O ato de desenhar
envolve a atividade criadora; é através de atividades criadora que a criança
desenvolve sua própria liberdade e iniciativa, e, expressando-se como individuo
reconhecera esse mesmo direito nos outros o que lhe permitirá apreciar e
reconhecer as diferenças individuais (Lowenfeld 1970, p.16).
Vygotsky (1998) considera que, da mesma forma
que a linguagem, o desenho também é uma forma de representação, um signo. Ele
vai buscar a gênese do sistema simbólico no gesto, no desenho, pois os
considera como os precursores do processo de desenvolvimento da linguagem e
escrita, da mesma forma que a linguagem, o desenho também é uma forma de
representação, um signo.
Muito antes do seu ingresso na escola, o desenho infantil
já aparece na vida da criança, já que a mesma tem contato com revistas, livros,
desenhos infantis na TV, entre outros recursos, fazendo com que chegue a escola
com vivencias com varias formas de desenho. O desenho infantil é utilizado
muitas vezes como objeto de estudos da psicologia, sendo utilizada por testes
de inteligência, personalidades e avaliação de distúrbios psíquicos, detectando
sentimentos como alegria, tristeza, depressão. Assim, é importante ressaltar
que o desenho é uma linguagem gráfica, que tem por finalidade representar, e
então, pode-se dizer que o desenho está numa fase preliminar no desenvolvimento
da escrita e da linguagem propriamente dita. O desenho é um produto do que a
criança vê e vivencia, mas para conseguir expor isso ela utiliza da memória,
sendo esta a responsável pela capacidade de imaginação do sujeito, no caso, a
criança.
Na aprendizagem o sujeito é compreendido na sua
totalidade. Ao aprender o sujeito descobre a si mesmo ao distinguir-se como um
eu diferente dos demais e do mundo. Portanto, no desenho, há uma aprendizagem
da realidade interagindo com a aprendizagem de si mesmo.
-O
DESENHO E O DESENVOLVIMENTO DA CRIANÇA.
Segundo
Vygotsky (1979) Os signos como forma de representação, estão intrinsecamente
ligados à cultura, e entre outros sistemas, incluem a linguagem e o desenho. As
operações com signos vão sendo constituídas ao longo do tempo, através das
relações sociais estabelecidas, e por meio destas operações com signos,
realiza-se principalmente o aprendizado de base que servirá mais adiante para a
aquisição e o desenvolvimento da escrita, leitura e aprendizagem através do
desenho. Através do desenho a criança se desenvolve e adquire conhecimentos,
que é criado pelo imaginário mundo de fantasias, favorecendo o entrelaçamento
de diferentes formas de sentir, pensar e aprender.
-A
MEMÓRIA E A IMAGINAÇÃO NA PERSPECTIVA HISTÓRICO-CULTURAL.
A memória é
imprescindível no processo de aprendizagem. Ao desenvolver as ideias sobre a
realidade exterior, a criança segue o mesmo caminho que desenvolve a sua
linguagem e escrita, ou seja, a criança desenvolve a linguagem começando por
palavras soltas, por substantivos que representam objetos concretos isolados,
assim o é com a realidade externa a criança, ela percebe primeiramente objetos
isolados (Vygotsky, 2001). A linguagem também é responsável pela capacidade no
homem de memorizar de forma qualitativamente superior àquela que lhe é possível
por suas características biológicas; a memória é uma das funções psicológicas
superiores que são desenvolvidas através de sistemas de signos herdados
históricos-culturalmente.
A
diferença entre memória e imaginação não consiste em atividade em si desta
última, mas nos motivos que provocam essa atividade. A memória está mais
vinculada com o subconsciente e constitui aspectos do comportamento que são
determinados dentro da esfera da consciência (Vygotsky 1989, p.133). A
imaginação não repete fielmente impressões isoladas, mas a sua relação com
experiências vividas constrói novas maneiras de combinar as diversas impressões
que a criança obteve no seu dia a dia. A fantasia também está relacionada com
experiências reais vivenciadas pela criança. Dessa forma, a fantasia é
duplamente real sendo de um lado por força do material que a constitui e do
outro, por forças das emoções vinculadas a criança (Vygotsky 1987). É a partir
da imaginação que a criança pode obter conhecimentos, adquirindo experiências
sociais coletiva da humanidade, através da linguagem, que constitui a cultura,
através do uso dos signos. A partir daí a criança vai internalizando a
realidade da escrita e linguagem através do contato com os desenhos.
-EVOLUÇÃO
DO DESENHO NA CRIANÇA.
Em torno dos
18 meses são detectados os primeiros grafismos da criança. São chamados de
garatujas e trata-se de um jogo motor. A criança realiza movimentos amplos, com
pouco controle: no sentido horário se é destra e no sentido anti-horário se é canhota.
Em torno dos 20 meses detectam-se movimentos de vaivém porque já começa a
existir a independência do cotovelo. Este movimento ira afinando-se e dando
lugar já ao movimento circular. Estes traços são denominados garatujas desordenadas.
Em torno dos
dois anos e meio observa-se que a criança já possui maior controle do punho e
do movimento da pinça; isto já permite a ela realizar movimentos independentes.
O ato motor ainda é independente do ato visual, porem já é capaz de seguir os
movimentos de sua mão com o olhar. Estes desenhos são chamados garatujas
ordenadas, porque a criança começa a dar-lhes significado. Ao chegar aos quatro
anos à criança já anuncia o que vai desenhar e planeja. É chamado desenho
figurado, surge à figura humana na forma de girino. Pouco a pouco seu grafismo
vai afinando-se; pode desenhar as figuras geométricas e utiliza o desenho como
ferramenta de comunicação. Aos sete anos é o momento máximo do desenvolvimento
do desenho como jogo. Já aos oito anos o desenho da figura humana revela a
assimilação completa do esquema corporal, aparecendo detalhes como o pescoço. E
aos dez anos já aparece a perspectiva.
-EVOLUÇÃO
DO ESQUEMA CORPORAL E A EXPRESSÃO GRÁFICA.
A partir dos nove anos, a criança e capaz de discriminar
sem erro entre esquerda e direita nos outros, e, colocada diante de outra
pessoa, pode imitar corretamente as posturas propostas. Nessa fase estará
também completando o conhecimento da localização, da denominação e da função
das diferentes partes do corpo. Uma vez adquiridas essas noções, assim como o
conceito das proporções corporais, ela conseguira desenhar a figura humana com
maior fidelidade. Diz-se que, em matéria de desenho, ela está entrando agora na
fase do realismo. Com efeito, todas as crianças, algumas aos nove, outras aos
dez anos, procuram reproduzir a realidade com a máxima aproximação possível.
Seja copiando do natural ou reproduzindo desenhos ou fotografias, elas tentam
não omitir nenhum detalhe, nem mesmo os menos importantes. Quando desenha a
figura humana, por exemplo, os personagens aparecem com cinto, punho, roupas
estampadas etc.; por conta própria, costumam enfeitá-la com colar, pulseiras, lenço.
O movimento e bem representado graficamente, e também aparecem construções de
certa complexidade, assim como outros elementos de diferente significado que
denotam a maturidade que o autor está alcançando em termos de desenvolvimento cognitivo.
(Lowenfeld1997, p.30)
-A
EVOLUÇÃO ESPONTÂNEA DO DESENHO.
Os desenhos das crianças, em especial os que representam
a figura humana, refletem com absoluta fidelidade o amadurecimento psicomotor
de seus autores nas diversas etapas do desenvolvimento. As crianças já terão conseguido certo domínio
da técnica gráfica e ensaiam métodos diversos para conseguir uma representação
visual melhor: copiam, decalcam e os mais dotados desenham a partir do real.
Nesse mesmo período os desenhos podem ser bidimensionais ou tridimensionais. A
adolescência vai colocar um fim nessa fase do desenho representativo.
A partir dos doze
anos ou treze anos pode-se dar por terminado o processo de amadurecimento do
desenho infantil que, em seguida, só continuara evoluindo nos indivíduos que,
por inclinação própria, continuarem cultivando a expressão plástica de forma
sistemática e que receberem um aprendizado mais metódico, visando a adquirir
conhecimentos artísticos específicos e técnicos mais apurados. (Lowenfeld 1997,
p.116)
CONSIDERAÇÕES
FINAIS
Concluímos que a
expressão gráfica infantil é como uma forma de atividade simbólica na qual o
mundo intelectual-afetivo da criança se manifesta. A expressão gráfica é um
movimento a mais que a criança tem para expressar-se, é mais uma dimensão de
seu brincar que, às vezes, deve ser levada em conta para se avaliar como cada
criança vai evoluindo; porem, também se deve deixá-la, ou seja, não se deve
necessariamente analisá-la ou interpretá-la. Através deste artigo percebemos
que o desenho infantil é um meio para se conhecer o desenvolvimento intelectual
e afetivo da criança que a partir dos desenhos é possível determinar o tipo e o
nível de pensamento. Antes dos dois anos a criança já se sente atraída por
lápis e papel; com as garatujas que consegue traçar ela inicia o aprendizado de
manipulação desses materiais. Entre os dois e três anos, os grafismos
espontâneos que a criança esboça seguem uma ordem singular no papel com retas
verticais ou horizontais; essas garatujas e essas retas correspondem ao grau de
maturação nervosa, de tonicidade, afetivo, etc. A criança representa um objeto
a partir da relação que ela estabelece com ele por meio de sua ação; por isso,
a criança tenta desenhá-lo como ele é realmente, mas sim de forma totalmente
subjetiva, ou seja, como ele o sente. A pesquisa nos forneceu grandes momentos
de aprendizagem através das ideias de alguns consagrados autores como Piaget
que nos diz que a criança aprende com o que faz a experiência e manipulação dos
objetos permitira que a criança abstraia suas propriedades, qualidades e características
e que a aprendizagem não é uma manifestação espontânea de formas isoladas, mas
sim uma atividade indivisível conformada pelos processos de assimilação e acomodação;
para Vygotsky, a aprendizagem supõe um caráter social determinado e um processo
pelo qual as crianças se introduzem, ao envolver-se, na vida intelectual
daqueles que os rodeiam. dessa maneira , a compreensão e aquisição da linguagem
e aprendizagem dos conceitos por parte da criança se realiza pelo encontro com
o mundo físico, e sobretudo, pela interação entre as pessoas que a rodeiam,
fazendo uma aquisição da cultura, com sentido e significação,supondo uma forma
de socialização.considerando o desenho como forma de pensar , observamos que o
mesmo exprime a afetividade antes mesmo do conhecimento, que para a criança é
uma expressão de mundo, o desenho infantil tem uma realidade própria que
exprime todos os conflitos pessoais da criança, onde a mesma se libera da aparência
real e se carrega do imaginário e produz a realidade que ela pensa sente e ver.
DERDYK,
Edith. Formas de Pensar o Desenho. Desenvolvimento do Grafismo Infantil-São
Paulo: Scipione, 1994.
JBEILI,
Chafic Adnam. Leitura do Desenho Infantil em Abordagem Psicopedagógica.
Brasilia-DF. 2008.
LOWENFELD,
W.Brittain, W.L.Desenvovimento da Capacidade criadora. São Paulo: Editora
Mestre Jou, 1977.
MORA,
Estela (licenciada em Psicopedagogia na Universidad Del salvador, Buenos Aires,
Argentina. Fundadora e coordenadora do Primer Centro Psicopedagogico de Argentina.
Professora universitaria e de pós-graduação) Edição: Equipe cultural. Tradução:
Daniela Falcão, Dra.Lea Távora Ochs, Mônica Nehr, Stella Machado. 2002-Psicopedagogia
Infanto-adolescente.
PIAGET,
Jean. Maria da Glória Seber. 1970. Diálogo com a Criança e o Desenvolvimento do
Raciocínio. Editora: Scipione. 1985.
SILVIA,
Maria Cintrada. A Constituição social do desenho da criança. Campinas. SP:
Mercado das Letras: 2002
VYGOTSKY,
Lev Semenovich. Pensamento e Linguagem. Nelson Jair Garcia.

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